Dia#09 | Caminho Francês

Dia#9
Distância: 22.4km
Tempo de caminhada: 6 horas
Clima: Nublado
Temperatura: Mín: 10° / Máx: 15°
Saída: Grañón
Chegada: Villambistia
Data: 15/09/2017
Palavra do dia: Julgamentos

Acordei com MUITO frio. Dormi com 2 blusas, 2 calças, 2 casacos, 1 meia e 1 coberta. Certamente, foi a noite mais fria até agora. E o albergue mais aconchegante. Apenas quatro amigos peregrinos dormiram no sotão comigo. Levantei. Me arrumei. Tomamos café todos juntos. Mesa farta. Bom-humor matinal é normal por aqui. Todos prontos. Saímos às 7:30. Eu, o espanhol (José), o esloveno (Gasper) e o húngaro (Borisz). O nascer do sol hoje foi incrível. Parei para registrar. Após um quilômetro, o Esloveno lembrou que esqueceu a carteira no albergue. Voltou. Continuamos sem ele. Alguns quilômetros depois ele nos alcançou novamente. Nos abraçamos. Já estava claro. Seguimos. Mais adiante, olhei para frente e não acreditei. Vi um campo de girassol gigante! Era um dos meus sonhos. Uma beleza inexplicável. Aquele amarelado no horizonte faz qualquer um ficar encantado. Mas eles estavam meio secos. Já era fim de verão. O sol já havia casticado a plantação. Pareciam um pouco tristes, mas encontrei um que “sorria”. Ele parecia estar dando “Bom dia”! Parei para uma foto. Lembrei de mim que estou sempre sorrindo. Segui em frente. Bateu fome. Após 12.7km de caminhada finalmente encontramos um local para comer. Parecia um vilarejo abandonado. Não tinha quase nada. Apenas um albergue e um restaurante. Fui até a porta do albergue para saber se tinham café. Estava fechado. Bati na porta. Ninguém abriu. Resolvi e entrar no restaurante e ver o que tinha. Achei que fosse caro porque parecia muito “chique”. Lá dentro era bonito, grande e arrumado. Olhei o preço. Era normal. Lembrei a não julgar pela aparência. Pedi uma tortilha e um café pra esquentar. Estava frio. O atendente não foi muito simpático comigo. Sério e frio. Um pouco ríspido. Comemos do lado de fora. Um dos meus amigos falou que conversou com ele e ele disse que havia sofrido uma cirurgia. Não estava se sentindo bem. Estava se recuperando. Não julgar N#2. Seguimos em frente. O papo tava bom. O esloveno falava português porque já namorou uma portuguesa. De repente, ele começou a cantar um pagode da época da minha adolescência. Não acreditei. Um esloveno falando português e cantando pagode? Essas coisas só acontecem no Caminho de Santiago! Cantamos juntos. Rimos muito. Gravamos vários vídeos. Foi divertido. Ele era muito alegre. Estava sempre sorrindo. Avistamos nossos dois outros amigos mais a frente. Havíamos ficado para trás. Decidimos correr alguns metros para alcançá-los. A felicidade e paz interior eram tanta que eu nem sentia mais a mochila. Ela já fazia parte de mim como se fosse um braço. Não era mais um peso. Era um complemento. Tudo parecia mais leve agora. Alcançamos eles. Continuamos caminhando juntos. Vimos uma placa ao atravessar a estrada escrito: “Usted no tiene la preferencia”. Era destinada aos peregrinos. Achei engraçado. Mas me fez refletir. Na vida, muitas vezes devemos nos colocar no nosso lugar. Andamos mais alguns quilômetros e paramos. Encontramos uma casa paroquial. Não tinha cama. Podíamos dormir no chão, mas eu não tinha saco de dormir e estava frio. Seguimos caminhando em busca outro albergue. Paramos dois vilarejos adiante. Tinha vaga. A hospitaleira era muito gentil. Super simpática. Fizemos check-in. Peguei uma cama. Encontrei um peregrino chamado Victor (americano) no meu quarto. Já havia alguns dias que ele estava no mesmo albergue que eu quando eu chagava. Trocamos algumas palavras. Ele me ofereceu biscoito. Aceitei um. Estava faminta. Tinha acabado a comida da minha mochila. Saímos para procurar um mercado. Tudo fechado. Parecia um vilarejo fantasma. Não tinha nada. Meio deserto. Sem vida. Eu e o Espanhol pensamos em ir no vilarejo seguinte comprar comida. Mais teríamos que andar mais 5km pra ir e outros 5km pra voltar. Estávamos cansados. Não fazia sentido. Resolvemos esperar a hora do jantar. Achei um chocolate na mochila que um peregrino me deu no dia anterior. Comi. Vilarejo vazio. Momento para reflexão. Dúvidas. Conversa. Choro. Sorriso. Alívio. Abraços. Emoção sempre à flor da pele por aqui. Depois de colocar os sentimentos pra fora, o coração ficou aliviado. Leve. Hora da janta. Comi um tradicional bocadillo e um brownie de sobremesa. A garrafa de vinho foi cortesia da hospitaleira. Brindamos. Tava frio. O espanhol me emprestou seu casaco. Me esquentei. Mais conversa. Bateu cansaço. Fui pro quarto. Deitei. Agradeci. Dormi.

Aprendizado do dia: Não julgar pela aparência.

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