Dia#31 | Caminho Francês
Dia#31
Distância: 21km
Tempo de caminhada: 5 horas
Clima: Sol
Temperatura: Mín: 17° / Máx: 25
Saída: Santiago
Chegada: Negreira
Data: 07/10/2017
Palavra do Dia: Bônus
Acordei. Me arrumei. Comi uma barrinha de cereal e uma banana. Preferi ainda comer coisas leves para não ficar enjoada. Saí 7:30. Estava tarde comparado aos outros dias. O dia já estava quase amanhecendo. Fui andando em para a Catedral em direção à Finisterra. O céu já estava ficando amarelado e rosado. Era o crepúsculo do amanhecer. A lua brilhava bem grande lá no alto. Bem na minha frente. Iluminava o meu Caminho. Encontrei Caroline (Inglesa). Nos abraçamos. Tiramos uma última foto. Era a última vez que a veria por aqui. Ela estava indo para Finisterra de ônibus e chegaria antes de mim. Não nos veríamos mais. Nos despedimos. Continuei com Borisz. Seguimos as setas amarelas até encontrar a direção certa. Começava uma nova etapa da caminhada. Agora mais relaxado. Menos ansiedade. Sem medo. Era apenas um bônus. Um pouco mais. O amarelo do outono fazia parte da paisagem. Passamos por uma pequena tenda azul de algum peregrino aventureiro. Estava acampando na beira da trilha e suas roupas secavam em um varal improvisado entre árvores. Deixei uma moeda como doação. Estava uma temperatura agradável hoje. O sol pareceu no céu. Ficou quente. A luz do dia ficou dourada. Coloriu a vegetação. Os milharais ficaram ainda mais amarelos. Passei por alguns “hórreos”. Local onde são colocados os milhos para secar. São pequenas casinhas construídas um pouco acima do nível terreno para evitar que animais se aproximem. Muitas vezes tem uma cruz no topo. Parece até uma pequena capela. As árvores altas e secas faziam um pouco de sombra. Passei por um árvore de kiwi. Nunca havia visto uma antes. Peguei um. Era cheiroso. Tenro. Uma delícia. Andei por alguns quilômetros e passei por lindas casinhas de pedras com jardins encantadores. Vi muitas castanheiras pelo caminho. Decidi começar a catar algumas e colocar na mochila para levar pra casa do meu irmão e cozinhar na volta. Castanha me lembra o Natal. Adoro. Como faltava pouco, o peso de algumas castanhas não me atrapalharia. As castanhas crescem dentro de uma casca espinhosa. Uma proteção contra os “predadores”. A natureza é mesmo perfeita.Tem que tomar cuidado para não machucar a mão ao abrir. Eu sempre escolhia as que já estavam entreabertas. Eram mais fáceis de pegar. De repente, ouvi barulho de água. Estávamos nos aproximando de um riacho. Passamos por uma linda ponte medieval de pedra. Vi várias por aqui. Muitos peregrinos aproveitavam o dia quente de sol para se banharem ou molharem os pés no rio. Era uma boa forma de refrescar e relaxar. Em volta do rio, haviam algumas casas. Bonitas. Grandes. Pareciam luxuosas. Não parei para descansar. Continuei caminhando. Avistei um lindo túnel de pedras no meio de uma vegetação verde. O sol iluminava a passagem. Parecia um portal. Me deu a sensação de que ao atravessar, eu entraria em outra dimensão. No Caminho, parece mesmo que vivemos em outra realidade. Em um mundo paralelo. Muito melhor que a vida “real”. Segui adiante e de repente, olhei para o alto e vi uma placa escrito: “Albergue Turístico San José”. Era o Caminho mais uma vez me fazendo lembrar do meu amigo Espanhol (José). Infelizmente não o encontrei em Santiago. Espera reencontrá-lo ainda por aqui. Pareciam sinais diários para que eu não me esquecesse dele. Segui em frente. Mais alguns quilômetros e chegamos em Negreiro. Destino do dia. A região da Galícia te muito pescado. Passei por vários restaurantes em que a especialidade era frutos do mar. Um deles tinha uma bancada para a calçada. O cozinheiro cozinhava de frente para quem passava. Me abordou quando passei. Me ofereceu um pedaço de polvo. Agradeci, mas falei que não precisava. Ele insistiu. Era cortesia. Eu não gosto de polvo. Mas ele foi tão simpático e sorridente que não consegui negar. Aceitei um pedaço. Comi. Dei um sorriso. Ele perguntou se eu era brasileira. Respondi que sim. Ele disse que todas as brasileira são muito bonitas e simpáticas. Falou para eu voltar no horário da janta que faria um preço especial. Me deu o cartão do restaurante. Agradeci e me despedi. Não voltei. Mas guardei seu gesto com carinho no coração. Um pouco mais à frente, esbarrei com alguns peregrinos fazendo o Caminho na direção inversa. Eles já haviam chegado à Finisterra e resolveram voltar para Santiago a pé. Me deu vontade de fazer o mesmo. Eu não queria parar de andar nunca mais. O espírito de peregrina corria pelas minhas veias. A “entrada” para Negreiro era uma graça. Havia uma pequena praça com uma capela, alguns lustres antigos na calçada e um grande muro de pedra com três passagens. Duas para pedestres e uma para carro. Parecia uma pequena cidade murada. Atravessamos e seguimos em busca do albergue municipal. A sinalização era um pouco confusa. O albergue ficava distante do “centro”. Andamos mais uns 2km até encontrar. Não ficava perto de mais nada. Era isolado. Entramos. Não havia nenhum hospitaleiro. Encontrei um recado na recepção dizendo: pegue sua cama, faça o check-in depois, volto às 18:00. Subi. Peguei uma cama. Tomei banho. Lavei minhas roupas. Coloquei pra secar. Recebi uma mensagem do Espanhol dizendo que havia chegado em Santiago naquela tarde. Nos desencontramos por questões de hora. Não acreditei. Perguntei se ele iria até Finisterra. Ele me disse que havia ficado doente nos últimos 4 dias e por isso, decidiu que iria pra casa. Estava com febre e se sentindo completamente sem energia. Falou que em breve cumpriria sua promessa e nos encontraríamos no Brasil. Disse que iria me visitar. Promessa é dívida. Falei que seria bem-vindo em minha casa. Fiquei triste por não ter conseguido reencontrá-lo. Mas feliz por ele ter chegado até Santiago. Eu estava com fome. Andei até a cidade para procurar um mercado. Estava bem quente. Comprei uma empanada de espinafre para jantar e um biscoito doce de sobremesa. Voltei pro albergue. Comi junto com alguns amigos. Conversei um pouco com Victor e Borisz. A responsável pelo albergue chegou. Fizemos o check-in. Ela disse que era voluntária e vinha no albergue apenas duas vezes por dia para receber os peregrinos e para fechar. Deixou a chave comigo e pediu para que eu fechasse as portas às 22:00. Todos deviam estar do lado de dentro. Confiança. Assim o fiz. Ficamos um pouco mais do lado de fora e na hora em que ela pediu, fomos pra dentro. Tranquei a porta. Subi. Deitei. Agradeci. Dormi.
Aprendizado do Dia: Me diga você nos comentários abaixo. Qual foi seu aprendizado de hoje?
Quer continuar acompanhando minha jornada? Cadastre-se aqui e caminhe comigo!