Dia#21 | Caminho Francês

Dia#21
Distância: 25km
Tempo de caminhada: 8 horas
Clima: Sol
Temperatura: Mín: 9° / Máx: 24
Saída: El Acebo
Chegada: Camponayara
Data: 27/09/2017
Palavra do Dia: Olhar

Acordei. Me arrumei. Comi uma barrinha de cereal que tinha na mochila. Comecei a caminhar. Ainda estava escuro. Segui um amigo que tinha lanterna. O frio da manhã me fazia querer andar rápido para esquentar. Depois de 8km ininterruptos, veio o nascer do sol. Começou a clarear. O contraste entre a luz e as árvores, faziam desenhos incríveis na paisagem. Silhuetas. Como eu amo contornos. Nos dá uma ideia do que estamos vendo, mas pra enxergar detalhes, é preciso olhar de perto. Me lembrei de nós, seres humanos. Olhamos muito depressa para o mundo ao nosso redor. Só temos uma ideia de como as coisas são. A correria do dia a dia, nos faz enxergar a vida como se fosse um rascunho. Precisamos de um olhar mais atento para contemplar as coisas como realmente são. Cheguei em um gracioso vilarejo. Encontrei alguns húngaros que já havia esbarrado antes. São tímidos. Não falam muito. Mas sorriram pra mim. Eu estava com fome. Um senhor me ofereceu uva. Aprendi a não negar o que o Universo me oferece por aqui. Peguei algumas. Agradeci. Estava uma delícia. Docinha. Abriu ainda mais meu apetite. Procurei um lugar pra comer. Encontrei um restaurante de um pequeno hotel aberto. Entrei. Era tão luxuoso comparado com a simplicidade da maioria dos lugares por aqui que achei engraçado. Pedi uma tortilha. Era enorme. Estava uma delícia. Matei a fome. Vi algumas frases penduradas em pequenos quadros na parede. Me fizeram refletir. Cada lugar. Cada pessoa. Cada palavra por aqui tem significado especial. Nada é por acaso. Momento de relfexão. Depois de satisfeita, segui meu caminho. Agora o sol já esquentava. O dia estava lindo. Passei por lindas casinhas coloridas. Caminhei um bom tempo ao lado da estrada. Mas estava calma. Sem muitos carros passando. Caminhada agradável. Passei por lindas paisagens. Andei mais 8km e cheguei em Ponferrada. Avistei um lindo castelo. No centro da cidade. Fui andando em sua direção e quando cheguei na porta, reencontrei meu amigo italiano: Mattia! Sempre feliz e com um sorriso no rosto. Me deu um forte abraço. Caloroso. Senti em meu coração que era a última vez que nos veríamos. Registrei o abraço de despedida dele e de outro amigo. Desejamos “Buen Camino” um para o outro e ele se foi. Eu queria entrar no castelo. Dei sorte. Nesse dia, a visita era gratuita. Coloquei minha mochila em um canto e explorei aquele antigo lugar. Fiquei receiosa de deixar minha mochila sozinha. Mas aqui eu estava aprendendo a confiar novamente nas pessoas. Subi na torre mais alta e tive uma visão panorâmica da cidade. Fiquei um tempo admirando a vista. Avistei mais algumas casinhas coloridas. Bonita arquitetura. Tirei fotos de diversos ângulos. Cada um mais bonito que o outro e fui embora. Amei aquele castelo. Fiquei imaginando como deveria ter sido viver alí. Depois de uma agradável visita, peguei minha mochila no mesmo lugar em que deixei e segui meu caminho. Avistei um bar e parei para comer alguma coisa. O dia ficou bem quente. Tomei bastante água. Segui caminhando. Passei por uma fábrica no meio do nada. Ela era bonita. Tinha aquelas chaminés altas, mas não emitia poluição. Gostei. Um pouco mais a frente, passei por uma rua onde tudo parecia ter sido acabado de construir de tão lindo. A igreja parecia um cartão postal. Uma das casas tinha telhado azul como a casa do meus sonhos de menina. Uma outra era feita de pedra e a parede revestida por “Era”. O jardim parecia encantado e cheio de flores. Alguns quilômetros adiante, senti fome e cansaço. Avistei um local com sombra e fonte de água. Parei para descansar e comer alguma coisa. Olhei para o alto e vi um ninho de cegonha. Nunca tinha visto antes. Era enorme e ficava no topo de um poste para os filhotes ficarem protegidos. A natureza é perfeita. Um pouco mais a frente, vi um casaco roxo caído no chão. Coloquei em um banco para caso a pessoa que tivesse perdido, pudesse encontrar. Próximo ao vilarejo do dia, passei por uma pequena área rural com algumas plantações. Milho. Abóbora. Abobrinha. Algumas ovelhas também. Me aproximei para tentar fazer carinho. Tinha uma grade. Não consegui. Mas tirei fotos. Andei 11km até o destino do dia: Camponaraya. Eu estava muito cansada. Pé castigado. Encontrei um albergue aberto. Tinha vaga. Fiz check-in. A hospitaleira me colocou em um quarto que não tinha ninguém. Pela primeira vez tive um quarto só pra mim. Depois de tanto tempo, foi até bom. Arrumei minha cama. Tomei um banho. Lavei minha roupa e coloquei pra secar. Estava faminta. Fui até o restaurante do albergue. A hospitaleira estava no balcão. Desocupada. Mas disse que a cozinha estava fechada porque era hora da “siesta”. Só abriria em duas horas. Não acreditei. Eu não tinha nada pra comer na mochila. Um amigo me ofereceu um pão. Aceitei. Fomos dar uma volta pela pequena cidade para procurar algum lugar aberto. Encontramos um Carrefour ao lado do albergue. Fiquei feliz. Renovei o estoque de comida da minha mochila. Comprei croissant, folheados, biscoito, chocolate e uma garrafa de vinho também. Não havia mais bebido desde que me despedi do meu amigos Espanhol. Hoje eu decidi brindar por nós dois. Sozinha mesmo. Voltei pro albergue. Encontrei duas amigas italianas (Sara e Martha). Sentamos pra comer e confraternizar. Batemos papo. Abri o vinho. Bebi 2 taças. Guardei o resto. Ficamos alí até escurecer. Deu 21:00. Bateu cansaço. Fomos pro quarto. Deitei. Agradeci. Dormi.

Lição do Dia: Um olhar apressado nos faz enxergar a vida como se fosse um rascunho. Precisamos de um olhar mais atento para contemplar as coisas como elas realmente são.

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