Dia#11 | Caminho Francês
Dia#11
Distância: 26.4km
Tempo de caminhada: 8 horas
Clima: Sol
Temperatura: Mín: 2° / Máx: 11°
Saída: Cardeñuela Riopico
Chegada: Rabé de Las Calzadas
Data: 17/09/2017
Palavra do Dia: Presente
Acordei. Dormi muito bem essa noite. Descansei bastante. Arrumei minhas coisas. Meu pé estava doendo um pouco. Só o esquerdo. Dor muscular. Cuidei dele com carinho. Passei creme. Fiz massagem. Preciso dele pra continuar. Saí às 6:30. Ainda estava escuro. Como sempre. Frio. MUITO frio. Ainda mais que ontem. 2 graus. A sensação térmica hoje era negativa. Minha mão estava congelando. Achei que não ia aguentar. Foi o dia em que senti mais frio em toda a minha vida. Lembrei da luva do espanhol (José). Ele não estava comigo hoje. Decidiu dormir até mais tarde. Ele quis me dar a luva de presente ontem, mas falei que não precisava. Devia ter aceitado. Presente não se nega. Lição aprendida. Aceito tudo que o universo tiver para me oferecer na próxima vez. Meu casaco é grande. Tapa o bolso da calça. Tentei esquentar as mãos abraçando a mim mesma. E me enrolei na minha manta. O lugar que sinto mais frio é nas mãos. Se estiver com as extremidades do corpo aquecidas, a sensação de frio sempre diminui. Continuei caminhando. Congelando. Esperando pelo próximo vilarejo para tomar um café quente e me esquentar. Olhei para o céu. Todo estrelado. Vi uma estrela cadente. Fazia tempo que não via uma. Fiz um pedido. Sorri. A lua nova parecia sorrir de volta. Fiquei feliz. Caminhei 5.5km. Clareou. Não sentia mais meus dedos. Cheguei em Villafria. E como é FRIA!!! O nome veio a calhar. Nada parece coincidência por aqui. Entrei em um bar. Pedi um café quente e um croissant. Me aqueci. Melhorei. Vi alguns guardanapos com mensagens engraçadas. Guardei alguns. Segui a viagem.
Vi uma mensagem no chão com a data de 2 anos atrás que dizia “Amo-te”. Gostei. Quis acreditar que alguém me ama também. Hoje uma parte da caminhada era na beira da estrada. Estranho ver os carros passarem tão rápido. Barulho, Buzina. Prefiro os calmos vilarejos e o cantar dos pássaros. Andei mais 8km. Cheguei em Burgos. Era domingo. Tudo fechado. Parecia uma cidade fantasma. Estava muito cedo. Ainda não tinha movimento. Encontrei o americano (Victor). Ele estava sentindo dor. Precisava de uma tesoura para fazer um curativo. Era minha hora de ajudar. Peguei a minha na mochila. Emprestei pra ele. Fez o que precisava. Me agradeceu. Seguimos juntos. Procurei um mercado para abastecer minha mochila de comida. Nada aberto. Bateu fome. Continuei andando. Cheguei na Catedral. Linda. Imponente. Gótica. Tirei fotos. Carimbei meu passaporte. Estive aqui. Mas não entrei. Cidade grande. Prefiro a natureza. Sensação estranha. Decidi continuar. Reencontrei o espanhol (José) quando estava saindo de Burgos. Contei do frio que passei. Ele me ofereceu sua luva de novo. Falou que eu podia devolver quando nos encontrássemos novamente ou dar para outra pessoa que estivesse sentindo mais frio que eu. Fizemos um trato. Aceitei. Um pouco depois nos despedimos. Ele passaria a noite em Burgos e eu ia seguir adiante. Encontrei uma padaria. Comprei baguete, queijo e croissant de chocolate. Pronto. Já tinha comida pra hoje. Andei mais alguns quilômetros. Encontrei um refúgio para descanso no meio da natureza. Sentei. Fiz um sanduíche. Comi. Matei a fome. Continuei. Me distanciei do americano (Victor) essa hora. Andei mais alguns quilômetros. Cheguei em outro vilarejo. Tinha uma placa avisando que o albergue só abriria às 16:22. Que horário esquisito. Gargalhei. País engraçado. Costumes diferentes. Eles tem o horário da “siesta”. Fecham os estabelecimentos no meio do dia para descansar e reabrem quando convém. Procurei um bar. Achei um toilet. Enchi minha garrafa d’água e decidi segui. Aindei mais 2km. Senti o joelho doer pela primeira vez. Precisava descansar. Passei por um lindo riacho. Parei um pouco alí. Contemplei a beleza da natureza. O dia estava bonito. Segui em frente. Avistei um simpático vilarejo. Encontrei a casa dos meus sonhos. Queria morar alí. Era dia de festa da praça. Tinha um palco na rua. Música tocando. Todos dançando. Adultos e crianças. Muitos idosos também. Senti pureza nas pessoas dalí. Fiz check-in no albergue. Peguei minha cama. Lá estava o americano (Victor) novamente. Ele sempre some no meio do caminho e chega antes no albergue. Tomei banho. Lavei todas as minhas roupas. Coloquei no sol. O varal de roupas ficava do lado de fora. Fiquei com receio de alguém pegar minhas roupas. Mas aqui, isso dificilmente acontece. Confiei que estaria alí quando eu voltasse. Comi um snack. Falei com meus pais no telefone. Disse que estava bem. Encontrei um amigo peregrino. Sentamos pra comer um sanduíche na calçada. Eu ainda tinha pão e queijo que comprei em Burgos na mochila. Dividi com ele. Aproveitamos o calor do sol. Fiquei satisfeita. Conversamos muito. O sol foi embora. Veio o frio. Resolvi voltar pro albergue. Coloquei dois casacos. Me aqueci. Ainda tava cedo. Decidi tomar um vinho pra esquentar. Fui no bar ao lado. Brindei com um amigo. Agradeci pelo meu dia. Relaxei. Veio o sono. Hora de dormir. Chegando no albergue, tinha um show no palco da praça. Duas jovens cantando. Estavam anunciando a próxima música: “DES PA CITO!!!” Não acreditei. ADORO. Parei. Dancei. Sozinha. Me diverti. Muito bom. Aqui não temos vergonha de nada. Somos livre. Fazemos o que sentimos. Acabou a música. Voltei pro albergue. Coberta quentinha. Cama macia. Aconchego. Rezei. Agradeci. Dormi.
Aprendizado do Dia: Presente não se nega. Quando o universo te der uma coisa, aceite! Você é merecedor.
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