Dia#07 | Caminho Francês

Dia#7
Distância: 29.6km
Tempo de caminhada: 8 horas
Clima: Sol
Temperatura: Mín: 17° / Máx: 28°
Saída: Logroño
Chegada: Nájera
Data: 13/09/2017
Palavra do dia: Deus
Acordei. Me arrumei. Saí às 6:30 com mais 3 amigos. Ainda estava escuro quando começamos a caminhar. O céu sempre MUITO estrelado. Temperatura agradável. Meu amigo canadense (Jonathan) estava com muita dor no joelho e precisava diminuir o ritimo. Dei um abraço nele e me despedi. Esperava encontrá-lo novamente. Segui meu caminho. Agora éramos só três. O alemão (Jonas) tinha a passada larga e caminhava rápido. Em alguns metros perdi ele de vista. Restou eu e mais um amigo. Veio o nascer do sol. Parecia uma enorme bola de fogo no horizonte. Que dia! A paisagem era de tirar o fôlego. A mais linda até agora. Cheiro de orvalho no ar. Esse amanhecer me fez sorrir. Meu coração ficou cheio. Senti o amor de Deus. A beleza da natureza é um presente para nossos olhos. Agradeci. Sorri. Tirei fotos. Ouvi música. Tocou balão mágico. Pulei. Corri. Me senti criança. Avistei um lindo lago. Muitos patos. Adoro o som “quack quack”! Admirei a paisagem. Parecia um quadro. Uma pintura. Uma cena de filme. A luz estava dourada. Crepúsculo. Atravessei uma pequena ponte. Amo pontes. Elas são conectoras. Possibilitam a ligação entre duas partes distintas. Acho metafórico. Vi patos passeando por ali. Tentei tocá-los. Saíram correndo. Eram lindos. Aqueles patos com penas verdes metálicas reluzente. Aliás, amo patos! Meu apelido era “Patola” quando criança. Ri muito lembrando disso. Eu estava feliz. A pisagem parecia uma floresta encantada. Muitas árvores. De repente, senti uma enorme vontade de abraçá-las. Queria agradecer pelo ar que respiro. Escolhi uma. Abracei. Fiquei alí por alguns segundos. Fiz carinho e dei um beijo nela. Senti uma conexão com a Mãe Terra. Respirei fundo. Sem ela, não há vida. Agradeci mais uma vez. Segui. Ouvindo música no ipod. Me sentia leve. Uma pluma. Quase flutuando. Paz. A mochila não pesava. Avistei um esquilo. Tinha amendoim no bolso. Peguei um. Me abaixei. Mostrei para ele. O esquilo me olhou. Se assustou. Se afastou. Continuei parada alí. Olhando pra ele. Esperei ele confiar em mim. Me olhou nos olhos. Se aproximou. Veio até a minha mão. Pegou o amendoim. Começou a comer segurando com as duas patinhas. Parecia gente. Sorri. Meu coração ficou cheio de amor. Ele confiou em mim. Segurança é importante na vida. Acabou de comer. Voltou para a floresta. Saltitando. Alegre. Tudo parecia tão feliz. Entendi que era interno. EU tava feliz. Estava conectada com o momento presente. Sentindo. Vivendo. Percebendo cada detalhe. Havia saído do automático. Quero viver assim pra sempre. A vida fica mais bonita. A felicidade tá dentro da gente. Nas pequenas coisas. Após alguns quilômetros, avistei uma tenda. O dono era um senhor com um longo cabelo branco e barba branca. Parecia até o papai noel. Ele é uma lenda aqui no caminho. Ele faz cajados de madeira para os peregrinos. Não cobra nada. Aceita “donativos” em troca. Os cajados ficam em um cesto para quem precisar. Alguns peregrinos deixam seus stickers modernos e trocam por um de madeira. Ele também oferece água. Frutas. Biscoitos. Pins. Lembranças. Vive de donativos. Comprei uma pequena pedra com uma seta amarela. Símbolo do caminho. Ele começou a conversar comigo. Me contou que ele e mais 11 amigos fizeram o caminho diversas vezes. Foram eles que pintaram as primeiras setas amarelas para ajudar os peregrinos a se localizarem anos e anos atrás. Me contou diversas histórias. Inclusive como conheceu seu grande amor. Foi no caminho. Perguntou porque eu estava aqui. Respondi. Queria trabalhar o desapego. Não o desapego material. Mas o desapego emocional.  Aprender a “let it go” (deixar ir). Queria me desapegar de um grande amor. Queria ser capaz de abrir meu coração para conseguir amar de novo. Ele olhou nos meus olhos. Tinha um olhar sincero. Senti verdade. Falou coisas bonitas. Profundas. Vinham da alma. Pareciam palavras de Deus. Tomei posse. Era um recado pra mim. Eu ia encontrar o que estava buscando. Senti esperança. Me emocionei. Chorei. Ele me abraçou. Conversamos por meia hora. Meu amigo canadense que havia ficado para trás, me alcançou. Tirou foto desse momento sem que eu visse. Registrou pra sempre. Me mandou depois. Agradeci. Amei. Ele trocou seu stick moderno por um cajado de madeira e seguiu seu meu caminho. Eu segui logo depois. Muito feliz. Estava tocada por suas palavras. Era o que precisava ouvir. Me senti abençoada. O dia estava apenas começando e eu já estava com o coração transbordando. Dei alguns passos e um amigo estava encostado em uma cerca me esperando. Não imaginava. Fiquei surpresa. Ele ficou muito tempo parado alí. Disse que viu quando chorei e queria saber se estava tudo bem. Falei que sim. Foi um choro de felicidade. Emoção. Gratidão. Agradeci a gentileza. Andamos juntos mais alguns quilômetros. Alcançamos nosso amigo canadense novamente. Era um encontro, desencontro e reencontro toda hora. Paramos para ver as ruínas de um hospital. Os antigos pilares tinham formato de cruz. Havia uma fonte de água alí. Enchi minha garrafa. Aproveitei para pedir que essa água curasse qualquer enfermidade no meu corpo. Segui. Parei no vilarejo seguinte para comer. O canadense encontrou uma amiga (Day). Sentou com ela. Segui em frente. Mal sabia que era a última vez que o via. Não o encontrei mais. Sentei em outro lugar. Pedi tortilha e café. Entrei em uma linda igreja. Toda dourada. Rezei por toda minha família e alguns amigos. Continuei. O dia estava bem quente. Muito sol. A paisagem era bonita. Muitas uvas pelo caminho. Comi algumas. Alcancei a marca dos 593km para Santiago. No meio do nada, encontrei uma pedra com o meu nome e o nome de um amigo italiano (Mattia) que fiz no início do caminho, dentro do símbolo do infinito, datando o ano de 2017. Quanta coincidência! Adorei. Sorri. Tirei uma foto. Mandei pra ele. Amigos para sempre! Eu comecei a ficar cansada. Meus passos ficaram lentos. Encontrei um sofá no meio do nada. Era pra mim. Deitei. Tinha um buraco no meio. Não vi. Gargalhei. Um amigo ficou rindo de mim. Tirou foto. Levantei. Seguimos em frente. Day passou por nós. Ela disse que Jonathan havia sentido dor no joelho e ficou pra trás. Tinha outro peregrino com ela (José). Ainda não o conhecia. Trocamos algumas palavras. Ele era simpático. Olhar sereno. Sorriso bonito. Caminhamos um pouco juntos. Eles tinham a passada mais larga. Nos afastamos um pouco adiante. Continuei. Cheguei em Nájera. Não tinha vaga no albergue municipal. Encontrei um privado. Parecia um hotel. Achei estranho. Gosto do clima da partilha e comunhão. Era um lugar mais frio. Sem confraternização. Eu estava em busca de simplicidade. Mas agradeci por ter onde dormir. Fiz check-in. Tomei banho. Lavei minha roupa. Coloquei pra secar. Me arrumei. Fui no mercado com dois amigos. Compramos coisas gostosas. Sentamos na grama. Era fim de tarde. O sol estava gostoso. Fizemos pic-nic. Conversa boa. Escureceu. Esfriou. Voltamos pro albergue. Deitei. Hoje o dia pareceu maior. Foi longo. Intenso. Especial. Conexão com a natureza. Vivi tanta coisa em apenas 24h que pareceram 48h. Agradeci. Dormi.
Aprendizado do dia: “The best picture it’s the moment you keep in your mind forever.”
“A melhor fotografia é o momento que você guarda na sua mente para sempre.” (Jonathan, Canadense)
Resumo da semana: 207km. 56 horas de caminhada. Muita comida. Muita água. Muito vinho. Muitos amigos. Muitas histórias. Menos 2kg na balança. Calça larga. Mochila leve. Coração cheio.
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