Dia #03 | Caminho Francês

Dia#3
Distância: 26.9km
Tempo de caminhada: 6 horas
Clima: Nublado/Sol/Chuva
Temperatura: Mín: 13° / Máx: 28°
Saída: Arres
Chegada: Obanos
Data: 09/09/2017
Palavra do dia: Aceitação
Resumo do dia: Acordei. Mal conseguia me mexer. Corpo estafado. Musculatura gritando. Alonguei devagar. Melhorou um pouco. Durante a madrugada, levantei pra ir no banheiro. Tava muito escuro. Não enxerguei a pilastra de pedra no meio do quarto. Bati de cara. Machucou. Foi forte. O nariz ficou dolorido. Já não bastava o resto do corpo do dia anterior, veio mais um brinde. Tudo bem. Acordou melhor. Arrumei minhas coisas. Fui pra cozinha do albergue. Tomei café coletivo. Dividimos o que tínhamos. Um senhor se ofereceu para cuidar da minha bolha. Não sabia fazer sozinha. Compaixão é o que mais se encontra por aqui. Agradeci. Deu alívio. Estava pronta para mais um dia de caminhada. Saí junto com mais 4 pessoas. Caminhamos 4.6km em 45min. O.corpo começou a acostumar com o ritmo de caminhada mesmo estando dolorido. Adrenalina. Chegamos em Pamplona. Bela cidade murada. Era sábado. Tinha feira de comida típica na rua. Festa na cidade. Estava animado. Parei em uma das barraquinhas. Uma simpática atendente espanhola me ofereceu algumas amostras de grãos adocicados para provar. Gostei. Comprei semente de abóbora caramelada para dar energia. Entrei em um bar/restaurante. Reencontrei alguns peregrinos do caminho e conheci outros. Todos sempre com um sorriso no rosto. Nos comprimentos. Sentei com eles. Rimos. Conversamos. Decidi seguir a caminhada com esse novo grupo. Um italiano (Mattia), um canadense (Jonathan) e o húngaro (Borisz). Saímos do restaurante. Começou a chuviscar. Primeira chuva. Botei a capa na mochila. Coloquei a calça impermeável por cima da minha. Novo desafio. Nova aventura. Formamos um quarteto animado. Energia de sobra. Muita música. Muita alegria. Muita gargalhada. Muita história. Novos aprendizados. Veio o sol. Tirei a capa. Tirei o casaco. Continuamos andando. Chegamos no destino que pretendíamos. Muito felizes! Não tinha mais vaga em nenhum albergue. Bateu desespero. De novo não!!! Paramos pra pensar. Decidimos ligar para os albergues do próximo vilarejo. Uma americana (Kelly) que falava espanhol fluente, ligou. Também não tinha mais vaga. Nem no próximo. Só tinha vaga em um albergue 10km adiante. Não podia reservar cama. Era de quem chegasse primeiro. Seriam 5km de subida e 5km de descida. Eu não tinha mais força na perna depois dos 41km do dia anterior. Pânico N#4. O que fazer? Sentamos no chão. Comemos qualquer coisa. Dividimos nossa comida. Bebemos água. Estávamos cansados. Descansamos. O italiano que tava comigo disse que não conseguia mais andar. Tem um câncer. Não queria forçar muito o corpo. Depois de descansar, senti que podia andar mais. Mas fiquei com medo de ter alguma lesão se exigisse demais do meu corpo. Falou que tentaria pegar uma carona para atravessar a montanha e continuaria a pé. Fui com ele. Muita conversa. Falamos sobre nossas mães. Ele me mostrou um caderninho que a mãe dele fez pra ele. Muitas mensagens com ramos de folhas e ervas com significados para protegê-lo no caminho. Amor de mãe é igual no mundo todo. Isso é lindo! Quando chegamos no nosso destino, encontramos o albegue. Entramos. Fizemos check-in. Pedimos para reservar duas camas para nossos amigos que ainda não haviam chegado. O hospitaleiro fez cara feia. Mas deixou. Ele não era muito simpático. Primeira pessoa que vejo não sorrir por aqui. Ele nos mostrou nosso quarto. Era enorme. Muitos beliches. Peguei minha cama. Tomei banho. Lavei minha roupa. Coloquei para secar. Quando me dei conta, descobri que havia deixado de passar pelo lugar que eu mais queria em todo o caminho. O Alto do Perdão. Eu tinha até trazido uma pedra comigo para deixar no local. Precisava perdoar uma pessoa. Simbolicamente, estar lá em cima era importante pra mim. Vim aqui também pra isso. Mas havia acabado de passar por um túnel abaixo desse local. Foi a única vez que saí da rota. Ironia do destino. Fiquei chateada. Quase voltei. Refleti. Nada é por acaso. Por alguma razão era pra ser assim. Me conformei. Deixei pra lá. Aceitação. A vida é assim. As coisas nem sempre acontecem como esperamos. A hora certa vai chegar. Vou sentir. Será ainda melhor. Otimismo. Eu e o italiano fomos dar uma volta pelo vilarejo. Entramos em uma igreja. Orei pela saúde do meu novo amigo. Agradeci por estar alí. Me emocionei. Chorei. Quando saí da Igreja. Ele também estava emocionado. Nos abraçamos. Sorrimos. Sentamos em um bar. Pedimos um vinho. Brindamos. Compartilhamos nossas histórias. Esperamos nossos amigos para comermos todos juntos. Depois de duas horas eles chegaram. Exaustos. Porém, felizes. Conseguiram. Nos abraçamos. Fiquei feliz por eles. Empatia. Comunhão. Comemos junto. Brindamos de novo. Tiramos fotos. Voltamos pro albergue. Zero sono. Muita energia. Eu e o italiano conversamos até meia-noite. Era uma mistura de inglês com português e italiano. Foi engraçado. Falamos sobre a vida. Sonhos. Futuro. Amor. Precisava tentar dormir. O dia seguinte seria longo. Desejei boa noite. Deitei. Tinha muito ronco no imenso quarto. Parecia uma sinfonia. Virei pro lado. Virei pro outro. Tava difícil dormir. Eu tava agitada. Muita energia. Corpo cheio de adrenalina. Rezei. Agradeci por ter uma cama essa noite e um teto para me abrigar Já estava bom. Era mais do que suficiente. Cochilei algumas vezes, mas não dormi. Não tem problema. Eu estou viva. Obrigada!

Aprendizados: Respeitar os limites. Saber quando parar. Aceitar o que não podemos mudar. Tudo acontece como tem que acontecer. No final sempre dá tudo certo.

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