Dia #01 | Caminho Francês

Dia: #01
Data: 07/09/2017
Distância: 27.1km
Tempo de caminhada: 7:30
Clima: Nublado
Temperatura: Mín: 17° / Máx: 21°
Rota: Caminho Francês
Saída: Saint Jean Pied Port
Chegada: Roncesvalles
Palavra do dia: Vitória

Resumo do dia: Não consegui dormir. Estava MUITO ansiosa. Rezei. Contei carneirinhos. Rodei de um lado para o outro na cama a noite toda. Devo ter dado uma cochilada de alguns minutos. Tenho sono leve. Qualquer barulho me acorda. Quando a primeira pessoa levantou e começou a arrumar suas coisas, acordei também. Eram 5:30AM. Arrumei minha mochila. Tive cuidado para não fazer barulho. O quarto estava escuro. Usei a luz do celular para enxergar minhas coisas. Fiquei pronta. Conferi se não havia esquecido nada. Saí do quarto. Tomei café. O albergue oferecia pão com manteiga e geléia. Estava sem fome, mas comi dois pedaços BEM grandes. Sou muito magrinha e estava com medo de não ter energia suficiente para encarar os Pirineus. Saí às 6:15. Estava muito escuro. Na porta do albergue, perguntei para um peregrino se ele sabia a direção. Ele disse que não. Caminhamos juntos por 1km. Ele era Húngaro (Borisz). Encontramos a rota. Nos distanciamos. Caminhei sozinha. Tava frio. Eu estava com 2 casacos. Veio a 1a subida. Cansei rápido. Senti calor. Suei frio. Tirei um casaco. Melhorei. Deu falta de ar. Bateu medo. Será que consigo? Pânico! Ipod. Pra motivar. Tocou a música “Haleluiah”. Rezei. Pedi coragem. Veio a força. Me emocionei. Chorei. Já tô aqui. Já é uma vitória. Se eu conseguir atravessar o Pirineus, já estarei feliz. Um passo de cada vez. Continuei andando. Sozinha. Amanheceu. A vista era linda. Tirei as primeiras fotos. Veio outra subida. Já estava cansada. Conheci um alemão. Seu nome era Rolf Robert (61 anos). Subimos os Pirineus juntos. Bom papo, bons passos, mesmo ritmo. Senti segurança em sua companhia. Confiança. Foi muito importante pra mim naquele momento. Nos ajudamos. Rimos. Compartilhamos nossas histórias. Nossos sonhos.Tinha um bom coração. Aliás, era por isso que ele estava alí. Sofreu uma cirurgia delicada. Assim que o médico o liberou, resolveu realizar seu antigo sonho de fazer o Caminho de Santiago. Quanta admiração. Corajoso. Conhecê-lo me deu força. Inspiração. Me motivou. Ótima companhia. Demos força um ao outro durante o trajeto. No meio do Pirineus, me deparei com alguns rebanhos de ovelhas. Quase morri de alegria. Era um dos meus sonhos de criança. Ver um monte de ovelha assim, bem de perto. Sempre tive paixão por elas. Os sininhos do seu pescoço tocando enquanto andavam era simplesmente encantador. Fiquei hipnotizada por alguns minutos admirando esses animais tão graciosos. Filmei para guardar pra sempre esse momento. Tentei tocá-las, mas são ariscas. Qualquer movimento as assusta e elas saem correndo. Uma delas se aproximou do meu mais novo amigo Rolf. Ela consegui tocá-la. Não acreditei. Fiquei na esperança de conseguir fazer o mesmo até o final do meu Caminho. Tirei muitas fotos e segui em frente. Veio mais uma longa subida. Alcançamos o topo (1.450m de altitude). Frio. MUITO frio. Coloquei mais um casaco. Depois a luva. Também o capuz. O frio não passava. Ventava bastante. Achei que fosse congelar. Andei devagar. Veio a descida. Senti dor no joelho. Quase chegando em Roncesvalles, levei o tombo N#1. Foi um escorregão. Não machucou. Vieram os últimos quilômetros. Conheci uma inglesa. Se juntou a nós. Caminhamos o último trecho juntas. Chegamos à Roncesvalles. Conseguimos! Rolf seguiu adiante. Ficaria hospedado no albergue do vilarejo seguinte. Nos separamos. Não o encontrei novamente, mas ele sempre estará no meu coração. Eu disse: “Buen Camino, peregrino!” E segui com Caroline. O albergue era um lindo e antigo Mosteiro. Entrei na fila para fazer o check-in. Consegui uma vaga. Peguei uma cama. Tomei um banho. Coliquei uma roupa limpa. Desci para dar uma volta no pequeno vilarejo. Comi um croissant. Fiz algumas amizades. Bati papo. Assisti a missa de boas-vindas aos peregrinos. Fui até o refeitório do Mosteiro para usar a internet e falar com meus pais. No quarto não tinha wi-fii. Conheci um peregrino. Outro Alemão. Seu nome era Jonas. Tímido. Trocamos algumas palavras. Liguei para casa. Já era tarde e eles apagam todas as luzes às 22:00. Falei que estava tudo bem. Deu tudo certo. Foi melhor do que imaginei. Não choveu. Não fez sol. Clima perfeito. Agradável. Caminhei 27.1km e consegui. Sobrevivi. Agradeci. Deitei. Dormi.

Aprendizados: Sou MUITO mais forte do que imaginava. Nunca desistir. Sou capaz de alcançar qualquer objetivo. Devagar e sempre. O corpo precisa de combustível. Água é a fonte da vida. Comida é a energia do corpo. Coragem é o alimento da alma.

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